segunda-feira, 9 de junho de 2008
Os Momentos de um Parto Vivo
O curioso de ser poeta
É ter aos seus pés zilhões de causos abertos
Cargas e mais cargas de momentos, fortunas
E sentir-se um tanto tolido mediante a brancura do papel
É mesmo um lado interessante da escrita, este.
O lado da pressão, da sensura, do calado
Parece uma piada, parece inexistir
Mas cai dia e nasce dia e ali este ele, o papel.
Lá está o papel, intocado
Deixando aos seus súditos a impressão de dormência
Assinalando, com seus detalhes próprios, o que quer deles
Mandando, desmandando, e opinando livremente
Então, é esse constrangimento que assume formas,
Formas lineares, lápis, caneta, pincel
Esse constrangimento,
É ele o autor das poesias
Uma vez reconhecido, dá-se a batalha de idéias
E saem tiros, canhões de bala fina
Cai sangue e suja o impecável escritório
Alguém vence nessa batalha, quem que é...
Pois então, depois disso
Depois de rolarem no chão aos socos
Aos murros
Então, poeta e sensura se amam
Ali no chão mesmo, sem constangimentos
E após algumas pernadas a dois
Surge clima suficiente para o auto
O conto, a crônica, a poesia...
Após essas idas e vindas dá ponto de escrever
E daí surge tudo...
Então, o mais importante é amar
Parece uma piada, provocação
Se for também não importa..
Afinal, nem mesmo os mais ranzinzas
Nem mesmo os mais azedos(as)
Nem mesmo os mais solitários seres noturnos
São capazes de escrever sem um amor
A poesia é, por assim dizer,
Filha de pais solteiros
Nascida naquele entrecurso repentino
Espontâneo
Não-programado
Mas que vem com toda a sua força
Exige responsabilidade dos seus mentores
Põe jeito e justiça a bordo, põe nos trilhos
Ajeita o devagamento que transgrediu os medos
Define o lugar das inseguranças e dos auspícios
Intromete suas vozes sob o olhar dos fiscais
E dá canto à vida quando se zomba da música
E tudo isso em um olhar de aresta...
Pois é claro que a poesia não ia se permitir sóbria
Nem recusar uma taça avermelhada de vinho
Mas daí temos o mais curioso de ser poeta
A sensação de impossibilidade e controle
Sobre os seus ímpetos de silêncio e de expressão
Daí temos o lugar da humildade
De reconhecer-se incompleto, de ver o afeto preciso
De notar a auteridade em si próprio
Mas vazia de significação
E deixando assim,
Lugar para outro, para outra
Lugar para amor e amor descabido
Deixando assim lugar para amada
Lugar para amar
Assim deixando, o curioso de ser poeta
Passa a ser a necessidade
Do diálogo interno se libertar
E ver nas flores novas um brilho diferente
Menos conhecido, mais atraente
Um brilho de olhar amendoado
De arrepios e noites frias
Noites à lareira e beijos ao cobertor
Daí o poeta torna-se gente mesmo
Homem feito, capaz
Mulher forte e sonhadora
Daí o poeta torna-se chão
Chão de onde há de brotar novas e vivas poesias
Cantos de alegria sincera, terra nova
Cerca velha foi a chão
E do chão começou um novo estado
Estado de estar poeta
Poesia de maioridade, madura e aberta
Olhando o passado por fatos
Uma poesia de verdadeiro poeta
Homem feito de tanto amar
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