sábado, 28 de junho de 2008
Vai Passar o Carro Eleitoral!
Um ode à vontade sacana de levar adiante toda semana,
Toda manhã, sorridente, com aquele ar de vitória,
Dizendo para si mesmo:
Hoje eu mato aquele leão!
Custe o que custar, eu mato o leão!
Um salve a nosso leão morto de cada dia!
Um minuto de vaidade em memória às nossas mentiras
À nossa indiferença e desgosto por se relacionar
Por ver que somos parte, somos o todo,
A despeito da má vontade, da má fé
Viva a má vontade das almas desamadas!
Delas está cada vez mais sendo o nosso destino
Nelas se encontram cada vez mais os nossos dessabores
Baixemos a cabeça
Pois é hora da passagem do cortejo
De canalhas na tevê
Aumentem o som, vai falar o seu ministro...
Vamos prestar bastante atenção na sua empáfia
Vamos decorar as entonações do seu roteiro
Vamos lembrar das suas promessas
Sempre e todas muito bem cumpridas, as sua promessas!
Cumpridas, longas, estensas...
Olhem para cima, meus cidadãos!
Olhem para cima!
Lá está ele, no alto do palanque,
Cá estamos nós.
Milhões de beijos e carinhos ao nosso prefeito
Sempre tão atencioso
Muitos vivas ao nosso prefeito.
Quem sabe nesse barulho todo podemos suspirar um pouco
Um suspiro
Um inocente suspiro
De ingenua admiração e medo
Um suspiro de morte.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Um Marcapasso Mais que Pop do Instante Vindo
Mais complicado que isso é olhar pro futuro
O futuro, com suas surpresas,
Suas perdas, posses...
Deve haver um jeito para fechar isso,
O futuro.
Deve ter uma maneira de passar para ele nossas ambições
Nossos pecados mais estúpidos
Deve ser possível uma reconciliação com o futuro
Deve dar trégua em algum momento, não é possível!
Dizem, ou ao menos já me disseram,
Que só vivendo mesmo
Mas, por outro lado, quantas previsões, não é?
Será que todas elas inúteis e inféteis?
Acho que não
Por isso eu torno a perguntar como pegar esse moleque
Pegar no flagrante
Com todos os seus planos ainda no forno
E ele ainda absorto de projeções que nós depois saberíamos
Daí ele via o que é bom!
Mas acho que não vai dar, viu?
Acho que não.
O futuro é tinhoso demais para um bando de esperançosos
Aliás, fazendo isso, nós jogaríamos no lixo todas as esperanças, né?
Penso que somos crédulos demais para tanta ciência
Tanta metafísica especulativa
Tanto banco e bolsa de valores.
Só queria uma coisa disso tudo, esse dito e chamado futuro:
Queria um tempinho para decidir meus sonhos
Meus amores e minhas plantas
Minha terra
Minhas estrelas
Queria um segundo antes de depositar meu brilho
Minha fé.
Um suspiro em contra a toda esta festa de pacotes e sacolas de mundo.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Então, tem poesia?
O que seria isto? Bom, veja bem...
É um pouco de ouvir a voz dos traços
Um certo baralhaço, um embaralhar (acho...)
Um embaralhar, arrumar de destacamentos,
Um aperceber de tato
É um tato partindo do ouvido
Capaz de tra,tra,trabalhar a noite inteira
É, sabe... coteira! coteira caindo sua água
Pingo, pingo, pin, pin, pa... pago.
Um pouquinho de s,s,s,s,s,serviço
De calma, é preciso calma,
Como? Pense redes... redes estendidas de espreguiçar
Um rebolar dos corpos presos
Das palavras seguradas, atadas ao papéis
Que em tinta têm cor, em rasgo vai letra, capote
Capote das letras, o som delas.
Tem que ser possível ouvir poesia.
Poesia que é som... sabe o quê?
Música!
É som.
Batuque em poesia
Batuque dez, nove, oito...
E vai! É batuque.
Pensa assim, ó...
Um,
S-k-r-a-tim-bum!
Igual aquele desenho...
Naquele desenho havia uma generosa dose de poesia
Havia uns jogados nas falas
Os personagens não falavam apenas para trasmitir
Passar apenas, de modos binomiais
Um grande e enorme binômio,
Não era assim.
Era um senso de alegria em som.
A alegria que cantava sem se passar
Sem ir mais do que ia
Sem valer de interrupções do sentido
Da mensagem
Era assim.
Então, tinha som.
Tinha som, sabe.
E a poesia de hoje - se é que temos poesia
Ah, a poesia de hoje é uma mudez que só vendo
A poesia hoje, bom, não pensa.
Age e sente como se pensar não pudesse.
Como se sentir não fosse pensar
Como se pensar não fosse sentir
É esta a tal moderna e contemporânea
Poesia de nossos tempos...
Sabe o que parece...
É que parece naquele revolta toda
Nós deixamos o susto vencer
Nós nos assustamos com tudo
E nos espantamos demais
Nos assombramos demais
Ficamos, com isso, meio cagão!
Sabe, o cagão? Esse mesmo.
Cagão.
Bom, esta é a nossa poesia.
Mas na verdade a gente não falava disso,
Né mesmo?
Falavamos de poesia e som.
Bom, poesia é som, não é verdade?
Mas, eu sei, deixe xingo para após,
Que eu sei,
Carece paciente ficar viu...
Paciente
Paciência? Só se for para ser paciente...
É assim a nossa poesia.
Então, poesia é som.
Tudo bem.
Mas é mais que isso
Ela se faz som, sabe como é?
Se faz.
Pretende
Poesia é pretenção
Não tem pretenção? Não é poesia. Não é.
Arrasta vontade... sabe disso?
Arrasta
Vontade, então... uns quereres de muito
Poesia tem disso também
Tem de querer e vontade mesmo
Desejo... de alguma forma
Mas é um desejo, assim, com som.
Desejo com musiquinha no ouvido
Desejo devagarzinho
Com vontadizinha...
Desejozinho...
Depois vai mais e cresce
Mas a poesia mesmo, de baixo, de começo
É bem devagarzinha mesmo
Desejozinho
Então cabe tudo isso, pois é.
Pois é sim.
Som, traço, jogo de riscos e rabiscos e papel.
Jogo, tem de ter jogo
Uma dosezinha, sem passar do ponto, de olho e olho.
Olho e olho, sabe aquele olhar?
Olho e olho, no olho mesmo
Aquele olhar de ver o outro
Saber que ele está ali, pronto e sabendo
E tendo som, ele está cantando.
Está rimando... e você, como está?
Sabe isso?. Pois é. Então é isso.
É o outro com o olho e o seu olho também nele.
É assim a poesia
Pois que então vejam
Resuminho pra facilitar, minha gente:
(viu, pus até dois pontos)
Poesia tem que ter conversa.
Tendo conversa tem tudo isso que falamos
Não tem conversa, então já foi...
Já foi mesmo.
Conversa, prosa, toma lá e dá cá...
Tendo isso, tá resolvido mesmo.
Tem poesia.
E, então, digo, em alto e bom tom:
Tem poesia?
E acho que tem.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Arremeço de Letras
uma grande apoteose de nossas colocações.
Somos, todos nós, formando um grandíssimo coro,
uma grande besta incapaz de ver ao ato de nossas ações a gravidade e a repercussão completa delas mesmas.
Somos a frieza da ignorância plácida,
conformada em continuar seu repertório manjado e mastigado de fadigas e contorções periféricas à essência de suas dores.
Não se pergunta com hombridade porque estamos a doer.
Não se arrisca uma resposta autêntica.
Apenas damos alguns diagnósticos sabidamente inóquos,
com o pretexto de acalmar nossas anciedades.
Se somos tudo isso mesmo que dizemos,
que confirmamos sempre que ameaçados por verdade-outrem,
então por que não provar de tudo isso?
Por que tanta etiqueta?
Qual a grande consequencia tenebrosa que pode nos acometer se agirmos de modo contrário, segundo o outro jeito,
o jeito diferente,
qual a grande ameaça?
Se somos incapazes de pré-dizer exatamente o que é esta coisa não nefasta e atormentadora, então não devemos dar a condenar estas outras possibilidades.
Somos forçados a uma ética de mentirinhas caso permanecermos com a tal prudencia patriciana da fidalguia despojada.
Somos dados a uma farsa universal.
Bom, se é essa a bestialidade insurreta, então deixe brindar quem queira; eu não quero.
Esconde-e-Esconde
Se dela queremos estrair passados lonjevos
E corriqueiras emanações das pedras que engolimos,
Engolimos sim, uma, duas, incontáveis vezes?
Como queremos denotar aparições e obscurandades,
E somos pegos de botija nos nossos atos,
Se somos também sombrios, ermos, turvos de toda sorte
Se somos apardados com verborragias criativas?
Por quê? Nós nos acreditamos de facto ruins?
Malévolos? Sórdidos? Despresíveis?
Será mesmo?...
Ou será que nos fazemos vítima dessas minutas todas?
Nas interpolações massivas da mente,
Na graça do pulular intempestivo de sortes,
Na ágida sorte de todos os desfechos
No macabro que mais parece um continuo métrico e rente
Mas nas assombrosas rememorações de hoje mesmo,
Estão guardadas as percepções mais honestas
As mais sintéticas percepções...
As obsolentes percepções de que não nos julgamos mal
Mas sim, falsamente
Tanta prosopopéia para dar um veredicto retórico
Juntas e mais assembléias de argumentos
Oratória atrás e depois de mais oratória
E uma alma escondida permanece como se encontra
Permanece a alma escondida
Não por timidez, mas por preguiça
Por segurança
Por falta de verdade assumida
Por falta de coragem
Permanece a alma assumida
Ela mesmo se agarra ao solo
Ao plantio de mentiras
E provocações e ironias orgulhosas
Permanece a alma e se enrosca
E aplaneia suas costas
Sobre o gelado da ofuscação
Do empoeiramento dos seus dias
Duro é dizer o contrário
É confessar todas as verdades
É ver e não baixar o rosto às potências
Próprias potências, potenciais
Calos e tornozelos
Os joelhos do espírito
Os requebrados incompletos
As beiradas...
Essas peças dão muita tremedeira em dizer...
Dá muita coisa junto, toda vinda...
Essas peças, elas não sorriem
Não dão pras nossas vontades com facileza
Essas peças da alma que doem
Essas partes, elas calam
Calam nossas vozes quando no dizer,
No dizer verdadeiro, dizer para fora
Esses arremendos de espírito nos cabresteiam
Nos pudoram
Nos fecham
Nos criptam...
Dá muita história lorotenta falar de falas dessas...
Mas dá pouca prosa falar o mais certo delas
Tem que lamear muito nas terras e nas águas barrentas
Para poder formar poço e guidaste
De modo a dar em arranco as partes da calada verdade
De modo a subir com elas para onde quer que seja
Tem que ter víceras nas vestes
Miudos de força para puxar água acima
No poço da verdadeira derradeira
Na verdade pura, fina, assaz
É essa a coisa que nos dá a expressão.
As expressões de tudo isto
É essa a coisa
Essa...
Então, meus leitores,
Venham de onde vierem
Voltem-se alguns dias da semana
Talvez do mês...
Talvez do ano,
Mas voltem-se a estas partes,
Pouco irrigadas da mente e do ar
Estes pequenos pulmões de vidro
Voltem a estas dificuldades,
Se as tem...
Porque caso não assim se faça então,
É caso este, caso seja...
Bom, então o mistério estará resolvido demais para os homens.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Sonambulismo em meio à Cidade Vívida
São duas horas da matina
Já riscaram o fósforo?
É pouco tempo, muito pouco
Vai rápido! Espere, espera...
Já é hora de acabar com isso
Não deixe que te vejam, ouviu bem?
Não deixe que te encontrem!
Agora vá que já é tempo
Esses segundos passaram rápido demais...
Será que eles voltam?
Está tão frio! Tenho sono! Tenho fome!
Esta nossa era é de matar a todos...
Seguiu resposta? Ah, eu sabia!
Não se pode contar com o tempo, meus amigos!
Não se pode esperar algo dele
Olha só no que deu a sua espera!
Espera.. será que é isso mesmo?
Talvez ocorreu algum engano, nunca se sabe
Você sabe como são as coisas hoje em dia, uma demora..!
Olha, acho melhor você aguardar
Ora, que vão todos à merda!
Já é muito noite!
Hora de cama, de descanso!
Fiquem vocês aqui, pousando com esta arruaça!
Mas veja, não quero ser intrometido,
É que tem hora de escuridão mesmo
Sem muita escapada, meu caro
E então, já decidiu seu rumo?
Pior que já
Esse é o problema.
Continuar aqui, neste breu
Só pra loucos mesmo!
Mas daí a mudar, olha, eu não sei...
Muitos riscos, depois sempre se perde alguma coisa
Se arrepende, tem muito arrependimento
Depois não dá certo, dá errado, veja lá heim!
Por que você não faz assim: fique quieto!
Daí o tempo passa, como tem de ser
E tu permanece, não muda
Nem pára, segue junto invés...
Daí tu fica, entende?
E ascende o fósforo
Tem luz, tem brilho
Tem visão, ô se tem!
Daí tu agrada, sacou meu velho?!
E depois disso, meu caro amigo do peito,
Vê se dorme logo este sono de mil anos!
terça-feira, 17 de junho de 2008
Repressão e Leviandade
Remexeu o copo, num movimento de inibição interna
Lançou sob o líquido um suspiro de resignação indesejada
De auto-lamento e violação auto-recíproca
Era quase um pecado ver aquela boca menina
Tão magoada e jogadinha, deixada de lado
Ver a meiguice do seus olhos ignorada
Prejudicada e ferida por dentro
Em meio à tristeza que tão profunda sentia
Dei-me o direito de reparar correto
Na cor das suas bochechas, rosadas que estavam
Dei-me a prerrogativa da maioridade e observei seu rosto
Estava que um choro desmanchando a pele e as pálpebras
Transpirava a amargura de sua dor
Respirava fundo com pouco ar de consolo
Dei-me, por fim, a responsabilidade da correspondência
Juntei alguns papéis da vulso, formei um lenço
E estendi à sua mão, trêmula
Sua voz procurou palavras para um agradecimento
Mas o som tão rouco, abalado, mal pode refletir o intento
Seus olhos apronfundaram-se em vergonha
E eu permiti a nós dois um silêncio
Parecia-me que aquilo encerraria nossa cruzada
Por certo era o justo depois de tão longa penúria
Mas quem disse que o mundo vive de justiça
Sei que a menina, não tão menina assim (eram os olhos),
Ela tentou ser sincera com seu luto
Tentou retribuir apenas o comedido da gentileza
Pois não isso passou, e outro gesto me veio dela
Quebrando com a formalidade ridícula do momento
Aceitou uma conversa corriqueira, um papo à mesa, papo de bar
Diálogo que rendeu risada, goladas, empadas, e leve mal estar
Era a jogadinha da embriaguez - que delícia abraçar seu corpinho para apoio!
E ela jogava o mesmo, fazendo de apêndice meu peito para que escorasse
Estava determinada ao desfecho de turno
Não como maestra que disso vivia,
Mas como personagem que admirava e nunca se atreveu a tanto
Tantas chaves para abrir uma fechadura
Não havia me dado conta do dobro delas
E quando aberta enfim a porta
O estouro, o arrombo e queda em cima da cama
Me segurou as anciedades,
Me olhou com uma cara de mulher.
Rastejando tão singelamente
Seus lábios sobre os dentes
Mordendo apenas a pele
Essa mulher desnudou o seu passado
Fez corpo da sua alma
Fez música do seu sexo
Poesia da sua flora
Deitou, emparedou, encurralou a vida inteira!
Se justiçou dos deboches adquiridos
Manifestou vontade pura
Impura, juras e curas mais
Recebeu a vida como vestido transparente
E a adentrar os mistérios do seu próprio desejo
Ciceroneou as suas fantasias
Num drinque sobre a minha virilha
Pondendo me deixar mais perto, cheguei!
Adormeci parcialmente ao gostinho do seu sorriso
Realizada e lúcida
Pude enxergar a sua súplica
Era a culpa que por mim sentias
Uma culpa boba por ser mulher
E que saía dos poros do seu peito
Uma dor de querer e frear correntemente
Agora que estavas a me olhar cansada
Feliz, descabelada e aos cheiros de cor
Me contentei com suas lágrimas ao copo
Delas guardei os prazeres que promove a dor
segunda-feira, 16 de junho de 2008
O Espanto Medicinal do Fôlego
Havia lá no alto, no alto de uma enganação
Um sabido moço que tanto sabia,
Sabia contos, sabia fatos,
Sabia mortos e também lembranças
Pois que então, estava esse moço
No alto da sua sabedoria
Pensando o quanto seria
Impune pousar lá embaixo
Pensava esse moço
Quão sujo, quão grosso
Seria sujar as meias
Nas pedras da infernosa multidão
Pensou e pensou mais um pouco
Até que, supreendentemente,
Decretou seu pensamento
E ousou sair do lugar
Que lugar? Ora!
O alto da sua sabedoria!
E agora, na sua homilia
Teria novos casos a confirmar
Afinal, esse moço,
Já tinha sabido e esposto
Tudo
O que havia de encontrar
Mas, na sua galantia
Sentiu o que presumiu
Que todos sentia,
E foi dizer mais um pouco
Do que sustentar
Pois, saibam vocês,
Que este moço sabido
Douto, Catedrático
E conferido
Foi dar com as aparencias
Onde elas estão de verdade
Viu onde surge toda a maldade
Viu os valores e seus juizos
Viu os guisos e as lantejoulas
Dos vestidos e das togas
Viu onde a vida advoga
Onde o homem come
E onde a fome espalha
Viu a navalha
Viu o clamor
Ouviu os gritos, xingamentos
Ofensas, injúrias, blasfemações...
E esse moço tão sabido
Reparou, constatou cientificamente
Que todos esses crentes
Dementes, pinéis
Tinham um ponto duro de ser mensurado
Teriam gráficos sórdidos de serem traçados
Teriam notas definhosas de rodapé
Este homem viu o cão da miséria e da imagem
Viu os loucos tendo palanque
E as putas tendo fiéis
Este homem viu a morte vulgarizada
Viu a vida estuprada
Viu a arte na calçada,
Ao revés
Este moço, agora homem
Depois de tanta espinhosa resposta
Olhou às costas o monte
Sábio, onde morava
Sentiu, sim, muitas vontades
Condenação, as vaidades
Clemência com retidão
Crença, superstição
Indiferença
Mas a maior delas foi a incapacidade
Olhou tanto que embarrou a vista
Não tinha mais o que tinha
Não era mais menestrel
Bacharel, sabidão das horas de tarde
Não era mais o mesmo
Não era mais capaz
Tudo que tinha era enganoso
Flácido, pantanoso
Fraco, burro, idiota, insagaz
Esse homem baixou mais baixo que folhinha de grama seca
Esse homem endoideceu
E o pior é o seguinte, moçada!
A vida seguiu passo a dentro
Passo e mais passo rumo ao velho
E a vida olhou aquilo com riso
Com sentimento de risada
De certo modo, era zombaria
Mas não aqueda escrachada de sadismo lacaniano
Era aquela de "pobre coitado, se fudeu!"
A vida, pela primeira vez, julgou este sujeito
Obteve contato com ele
O olhou nos olhos
Disse: "veja quem eu sou, cara-pálida!"
"Eu sou a plenitude transviada de fineza!"
"Eu sou a negação da sua síntese"
"E tu, tão trouxa, que nem isso fizesse!"
Coitado do pobre moço...
Ficou tão desolado
Mal-amado, mal-estudado, mal-menino
Depois desta coça
O moço enconta
E uma nova tentativa
Tenta recompor os cacos presentes
E os ausentes inventa desculpas
Faz ponto por ponto seu desenho
Espreme o restinho de empenho
E arde por guardar meia-culpa
O moço juntou de volta o passado
O que foi, o que passou
O que guarda e permanece
Mas se vai e embarcou
Nessa volta, uma desconfiança
Que a vida traga lembrança
Traga noites e mais noites
E marcas e solidão
Desta desconfiança, tenta hipóteses
Novas glosas para ajustar o desatino
Desatinado...
No pouco amor da vida em espúria
O moço tenta a volta à vida mesmo
Ser mais forte que o vento e a chuva
Ser mais humano que o valor enganoso
Maldoso valor aos homens ingratos
Os homens errados e chupins do nosso andar
O moço tenta a ousadia
O moço tenta o despertar matutino
Seis horas da manhã, à fábrica
Seis horas da tarde, à creche
Onze horas da noite, ao fogão
Zero hora de algo, à penumbra
O moço tenta a outra coisa, outro jeito
Alternativa, ah taí o nome!
É tentativa, verdade
Pode ser, pode não ser
Mas não tenta só,
Pensa e age junto, cai junto, dança junto
E isso transcende as mais altas da sabedorias
Pois do baixo de chão, pedra, poeira e pólvora
Nasce do asfato as flores experimentadas do novo
Do vivido novo que está a brotar
Da luta insolente, dos moços e moças
Da puberdade política
Do encanto e vulnerável
Desse molho que liga o pontos
Do nosso desenho
Da impertinência dos desagradáceis,
Brota as vinhas que abarcam toda a realidade
Todo o real
O belo, o velho, o novo, a trova
A mentira e a prosa
Dando vida, dando verdade
Dando mais capacidade
De voar ao alto dos altos
Às nuvens verdadeiras
E aos montes de terra,
Às montanhas condoreiras onde
Flor e homem sereneiam o ar compartilhado
É o ar dos altos sentidos e vividos
O alto da pedra e dos rios
Do movido em movimento dos mesmos
Dos seres de movida vida e frio
Que hoje calorece e caloreia
Os sóis em luta e chão e braço
É o sol em abraço
Multidão das certezas da vida
sábado, 14 de junho de 2008
Um Escândalo Resumido
Como num paço à frente
Te tomo em meus braços
Como galhos de uma velha árvore
Seivando seu corpo noturno
Como lebre que presa se encontra
Sustentada na força do meu impulso
Se suspiras e sussurras
É de baixo que eu te ouço
Aos gritos, galopes
Aos garros e atropelos
Insanidade de soltura
De febre e desgarramento
Impossível momento
De individual desprezo
Pois que te tenho comigo
Comigo jogas
Segue um lado à dentro
Um lado a fora, esquivar
E ungir de novo
As algas com que engasgas
E sente as asas
De um belo quebrar
Se te seguro firme
Bem atada, colado
E adentro rouco
Atrito e palidezGrunhido e áspero
Se raspo as bordas, desmanchar
Tu tanto hesitas e escondes
Sem apelo, vou mais fundo
Munindo as armas de estrondo e do tiro
Aponto as lanças afiadas dos segredos
Sem piedade estanco ferimentos antigos
Lugares e lacunas não antes ocupadas
Se tentas formular uma pergunta
Uma queixa ou indagação
Reforço as grossas comandas
De um jeito mais ávido de ceifar os louros
Não deixo margem para desvios ao alvo
Apenas permito alguns arrepios momentâneos
Assim escandalizo seu charme e suas certezas
Umedecendo a terra nas mais profundas raízes
Dando ao seu cheiro um odor de nudez e mato
Como carrapato que não larga o bugio
Assim eu mostro como a dor tem suas delícias
E te encho de terror embelezado
Abrindo sua boca e sentindo o hálito e o medo
Nos seus dedos, o roxo da reluta em vão
Escondo suas pernas sobre as minhas
E outras passagens do meu manequim
Deixando frio pelas roupas ausentes
E fraqueza nos pés e nos ombrosVasculhando escombros do seu corpo macio
Adentro os quatros e revisto as camisas
Rasgo e escolho suas vestimentas pobres
E dou aos cegos os bocados da sua gentileza
Horrorizando seus olhos e pensamentos
Assumo seus gestos e emoções
Trago para dentro as formas do seu afeto
Seu tesão e seu fetiche
Faço brincadeiras com seus sonhos e metas
Maldades com suas esperanças e ilusões
Eu mato o que te vive por dentro e por fora
Para que tenhas um tanto de mim para por no porta-retrato
E, desta forma,
Eu encerro a ultraje contra sua silhueta frondosa
E me guardo para futuras manifestações
As Primazias Caprichosas do Inútil
Em um estado de camelo, carregando águas e caldas por onde rumo
Por níveis de inconstância ainda que provocada
Há enormes disparidades entre a passiva angústia e o raivoso impulso
Há enormes disparidades e dissonâncias, pois não há como parar para viver
Não há como parar com o ritmo, com o compasso, com o belo e o dinâmico
Esse momento dinâmico e muito cuidadosamente temperado
Esse momento meticulosamente amado, que é o viver
Então àqueles que procuram medir seus passos
Anteriores e seguintes, o antes e o depois,
Àqueles que gostam, que se deleitam em escravisar-se
Em torturar-se pelo sinal da retividade doida,
Bom, àqueles que mantém este comportamento
O tempo haverá de pacientemente repetir
E repetir, e repetir novamente
Seu jogo, sua ginga, seu traquejo
Até o ponto necessário
Para que estes cidadão
Vomitem todo o seu carrocelzinho tão precioso
Emporcalhem a roupa e o vestido de domingo
E depararem-se com a morte, sorridente, safada e graciosa
Sorrindo o desfecho óbvio e inevitável
Morrer é apenas a continuidade do princípio nascente
Viver é que transcende qualquer medida
terça-feira, 10 de junho de 2008
Suplício do Yuppie Moderno...
segunda-feira é um dia que não presta pra nada mesmo!
presta sim, mentira. presta pra dar raiva na gente!
segunda-feira serve pra deixar o organismo louco
pra ferver o sangue e esfriar o júbilo
pra dar tudo errado e fracassar em tudo
segunda-feira não devia ser segunda-feira
devia ser sábado, sei lá! devia ser nula.
podia ser velha, que daí morria logo
podia ser só.
segunda-feira podia ser morta
daí ninguém ligava pra ela
daí não tinha prazo que caía
não tinha prova, não tinha remédio
daí não tinha patrão
segunda-feira tem a capacidade
de marcar as pessoas, de abrir passagem
para raivas, broncas, erros, erratas,
para dar tristeza aos locais da alegria
e nutrir uma euforia de querer
querendo matar por vadiagem
segunda-feira tem jeito de algoz
de peão bruto, carrasco, capanga
tem um jeitão de gangue nova-iorquina
um convite à metralhadora giratória ambulante
cujas balas não escapam do alvo,
não erram destino
não desviam
segunda-feira sobra demais nas prateleiras
tem segunda-feira demais nesse mundo!
tá saindo segunda-feira pelo ladrão!
como que nem se podia pensar no domingo
nunca pensar no domingo, minha gente...
assim mesmo, desse jeito
tem segunda-feira causando tumulto
transtorno, agitação
segunda-feira é um diazinho cretino mesmo
nos acorda como quem nos espanca
nos cobra como quem nos atormenta
nos mede como quem nos tortura
nos fala como quem nos cospe
nos aponta como quem nos acusa
quem que pode, meu Deus, com a santa segunda-feira!
devassa pervertida dos apetites sádicos e vorazes
carniça de mendigos e defuntos do meio-dia
segunda-feira é avesso de alegoria
é dureza demais, real demais
é verdade demais para os que vivem de afeto
é negação e concreto
oh diazinho de empestiar quarteirões
de decretar quarentena
de matar multidões de pânico,
soluço, pavor e solidão
gastrite, enxaqueca, úlcera
pancreatite e depressão, doenças de todo o gênero
não fosse o dia seguinte, não haveria segunda-feira
não fosse segunda-feira, não salvaria o dia seguinte
pois dia após dia, tormento vêm, tormento bebe..
e segunda-feira mantém sob seu julgo todos os que difamaram.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Prosa de Areia
Mandando embora barquinhos de sonhos
Vontades, desejos, anseios, recreios, e mais
Vai falando, flor, pois quem sabe menos fala mais...
Vai listando, dor, vai gemendo as cores dos corais
Vai ondulando e mostrando baixezas, ondas, espumas, mais
Recifes, Encostas, praias e enseadas...
Bisbilhutando por perfumes e pedras e pérolas mais...
Vai criando, amor, vai livre escrever à luz dos dias
Recitando os poemas e as poesias
Por ondas passar, também quero passar
Quero dar voz, dar beleza aos trapiches e aos recitais
Vai deixando, cor, pele, pigmentação e urucum
Tracejando listras e anéis dourados, riquezas, badalos
Jóias de estirpe, de devoção e louvor
Meros sinais de crença e obediência e carpindeiras e funerais
Vai pisando, norteando, apontando seus resquício...
Deixe que a fogueira matutina queime até o último galho
Areia de praia plena, deserta, coberta de sol e frescor
Brinquedo de mundo menino, rebelde, desatino, ao gosto dos maiorais
O Certo e o Errado
Se queremos um querer em um estouro
Então vale muito o que estamos fazendo
Vale contar calado os dias frios
Vale guardar segredo e dizer mentira
Vale jurar inocência e falar correto
Vale muito...
Vale voar com medo
Vale segurar a mão
Vale pedir perdão
Vale sorrir sem culpa
Vale a face oculta
Vale, vale sim.
Vale subir serra moço!
Vale, e muito!
Vale esconder canhão
Vale chorar de noite, menina
Vale cair da escada
Vale correr em desespero.
Vale dirigir embreagado
Vale contar a verdade.
Se o que queremos é vontade de susto
Surto, quase uma psicose...
Então vale mesmo, rapaz!
Vale muito!
Vale amar nos dias de emprego
Vale folgar aquela aula chata
Vale dizer palavras doces
Vale curtir a fossa vizinha...
Vale ser um ombro amigo
Vale cagar para a desconfiança
Vale chupar a núvens tortas...
Vale deitar sobre o cimento
Vale desnudar o claro do dia
Vale o pernoite com o obscuro...
Se é isso que queremos, mas se é isso mesmo...
Então vale toda a dúvida
Vale todo o medo
Vale todo o desencanto
Vale tudo de uma vez!
E vale tudo outra vez...
E se queremos tudo nessa mesma hora,
Então que venha tudo e nos tome soltos e náufragos
Pois nessa vida vale tudo para viver
Vale um maçarico quebrado
Vale uma captura mal-sucedida
Vale uma surra
Vale tortura
Se é isso que sabemos muito querer
Vale qualquer ato, por mais louco que pareça,
Para cuspir fora nossa hipocrisia.
Os Momentos de um Parto Vivo
O curioso de ser poeta
É ter aos seus pés zilhões de causos abertos
Cargas e mais cargas de momentos, fortunas
E sentir-se um tanto tolido mediante a brancura do papel
É mesmo um lado interessante da escrita, este.
O lado da pressão, da sensura, do calado
Parece uma piada, parece inexistir
Mas cai dia e nasce dia e ali este ele, o papel.
Lá está o papel, intocado
Deixando aos seus súditos a impressão de dormência
Assinalando, com seus detalhes próprios, o que quer deles
Mandando, desmandando, e opinando livremente
Então, é esse constrangimento que assume formas,
Formas lineares, lápis, caneta, pincel
Esse constrangimento,
É ele o autor das poesias
Uma vez reconhecido, dá-se a batalha de idéias
E saem tiros, canhões de bala fina
Cai sangue e suja o impecável escritório
Alguém vence nessa batalha, quem que é...
Pois então, depois disso
Depois de rolarem no chão aos socos
Aos murros
Então, poeta e sensura se amam
Ali no chão mesmo, sem constangimentos
E após algumas pernadas a dois
Surge clima suficiente para o auto
O conto, a crônica, a poesia...
Após essas idas e vindas dá ponto de escrever
E daí surge tudo...
Então, o mais importante é amar
Parece uma piada, provocação
Se for também não importa..
Afinal, nem mesmo os mais ranzinzas
Nem mesmo os mais azedos(as)
Nem mesmo os mais solitários seres noturnos
São capazes de escrever sem um amor
A poesia é, por assim dizer,
Filha de pais solteiros
Nascida naquele entrecurso repentino
Espontâneo
Não-programado
Mas que vem com toda a sua força
Exige responsabilidade dos seus mentores
Põe jeito e justiça a bordo, põe nos trilhos
Ajeita o devagamento que transgrediu os medos
Define o lugar das inseguranças e dos auspícios
Intromete suas vozes sob o olhar dos fiscais
E dá canto à vida quando se zomba da música
E tudo isso em um olhar de aresta...
Pois é claro que a poesia não ia se permitir sóbria
Nem recusar uma taça avermelhada de vinho
Mas daí temos o mais curioso de ser poeta
A sensação de impossibilidade e controle
Sobre os seus ímpetos de silêncio e de expressão
Daí temos o lugar da humildade
De reconhecer-se incompleto, de ver o afeto preciso
De notar a auteridade em si próprio
Mas vazia de significação
E deixando assim,
Lugar para outro, para outra
Lugar para amor e amor descabido
Deixando assim lugar para amada
Lugar para amar
Assim deixando, o curioso de ser poeta
Passa a ser a necessidade
Do diálogo interno se libertar
E ver nas flores novas um brilho diferente
Menos conhecido, mais atraente
Um brilho de olhar amendoado
De arrepios e noites frias
Noites à lareira e beijos ao cobertor
Daí o poeta torna-se gente mesmo
Homem feito, capaz
Mulher forte e sonhadora
Daí o poeta torna-se chão
Chão de onde há de brotar novas e vivas poesias
Cantos de alegria sincera, terra nova
Cerca velha foi a chão
E do chão começou um novo estado
Estado de estar poeta
Poesia de maioridade, madura e aberta
Olhando o passado por fatos
Uma poesia de verdadeiro poeta
Homem feito de tanto amar
sábado, 7 de junho de 2008
Considerações ao Pé do Copo ou da Varanda, em um Dia Levemente Esfriado
É que, meu amigo, há palavras que inquietam até serem ouvidas
E depois disso, tanto faz.
É certo que os dias supreendem ao mais experiente companheiro
E que os segundos apenas aparentam passar iguais
Que as oportunidade são gracejos e insinuações
E as lembranças, um pouco de café e açúcar.
Mas, seja como for, independente disso
Eu quero assegurar e deixar claro
Que deixar o tempo passar, ignorar o nascer do dia,
Não interferir nos risos e nas noites..
Isso, não posso permitir
Para chegar depois ao sério e intocado tédio
Para brindar os anos de fartura e jovialidade plástica
Para guardar o bastião dos varões de 70 anos
Para isso eu lembro meus antecessores
A ponto de saltar do forno,
Pedir mais um copo com gelo e mais...
Com pernas livres para pular de canto a outro
E braços de swing e slow-motion...
É desta tal maneira, meu colega
Que quero alvejar e mesmo cristalizar, de alguma maneira.
É desta forma que eu desejo amar os dias finais
Os encerramento, o destrinchar da noite
Se é que desta forma fazem
O caminho a seguir daí para frente
Quero clarear o quarto para escurecer apenas,
Apenas depois dos olhos fechados
Quero sintir a música acabar aos poucos,
Instrumento por instrumento
E então abrir alas para outros cantores
Outros bailes de longa duração
Quero ver um raiozinho, uma fresca de lembrança
No momento que ela dar boa noite
Uma menina, apenas
Despedindo
E assim, meu companheiro, os dias terão o fim de mim
Os dias vencerão os trapos e as angústias
Vencerão as feras da dúvida e do remorso
Vencerão os infiéis
Os dias vencerão, meu amigo!
Estarão contigo até o último suspiro...
Mostrarão o que antes era inapropriado, sabe?..
E darão, esperamos, o deleite de conhecer este roteiro por completo,
Sem cortes, queixas e comerciais.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
A Precisão Fina e Vazia
O barulho do andar-relógio, aqueles com passos cronometrados
Com um passo, depois com outro, numa seqüência demarcadora,
Fundação, marco. É essa a impressão. Uma afirmativa categórica.
O resultado, tão logo, é aproximação, é vinda.
Programado destino de tempo, de passar das horas.
Cheio, compraz, convincente. Consenso em subjugar.
Tal o tempo, o definir de parada e retomar
O subterfúgio em números, álibis.
Advogados de um recalque atrevido..
Louco por apavorar
Louco por alongar, esticar os minutos mais um pouco
Alongar e puxar para mais, só por teimosia
Para deixar marca também
Deixar pegadas
Registrar, é isso. É isso e só.
Fazer próximo aquilo que logo irá para longe
Novamente, para longe vai
Solta e recompensa o perdido
Tal moleque perdido do grupo
Procura os demais, coberto de culpa
Coberto, assumindo o externo, é isso.
E encontra, afinal. O registro se faz verbo.
Dá voz
Fala, e vai
Tem seus segundos de fama
Depois leva para si o restante
O tempo agradece a complacência
Afinal, é só assim que tempo vive e tempo morre
Passando, passando, deixando
Fincando o pouco quando o muito se acumula
É o tempo vindo mostrar suas capacidades
Mostrar o eu que nós deixamos
Deixado em nome do registro, o aplauso
O tempo que abandonamos em nome de estar.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Caldeirão de Térmica Solada
Nos ciclos e mais ciclos de arcaico calderão
Volteiam os giros e giras de internalização
Hipnose e atração de cheiro
De olho, ouvido e pele, sensível
O próprio meximento já encobre
O explendor de correnteza instantânea
Passando por cima dos estancamentos
E de paradas imaginárias do tempo andante
Grosso em seu próprio giro
Ocupado, sozinho
Indiferente...
Gira como se nada viesse
Como motto continuo de águas calientes
Caloreia as águas de roda
Rodeando
O mais descido é que esquenta, que aquece
E de baixo para cima é que vem substância
Substância? É corpo de giro
Circulação por dentro d´água
Diferenças e contrastes
Da vida térmica que aperta forte
Calor de moléculas
É átomos se agitando, espuletas
Prótons e elétrons
Cargas do positivo e do nem tanto...
Agitação.
Fere e cura, é quente
A água do caldeirão mexente...
Espiral de mão dupla
Cima, baixo, e vice-versa
Calorou, esfriou
Sol interno
Dentro
Aqui
Cá
É.
Mexeu caldeirão de caloradas águas mais
Alegoria de Aventura em Rio, Desaguada Lembrança Estados a Baixo, Âmbito de Chegar
(Para minha Gabizinha... que guarda os fortúnio e sortlégios da letra à espera...)
Côncava esfera de trova, simples
Risada e agraciada memória
Prelúdio, acachapante e emudecedor
Grisalho, cinza e anel
De destoada alegria, tinta
Pintura, pincel
Ponte, pinguela de mato
Travessia bruta
Passagem
Fosso
De A a B, um suicídio
Morte mesmo, encerramento
Cria de espectativa e querer
Escultura de entusiasmo
Fascínio pelo obscuro e medo
Lugar morto, despedaçado
Sempre solto, em beira de ar
Oxigênio e malte perpétuo
Cordas e amarramentos velhos
Seguranças antigas
Voar
Artear os escândalos maiores
Gracear
A bela dona que me espera meridionada
Apenas estar.
domingo, 1 de junho de 2008
Travessia de um Oceano em Dúvida
Rodopeio... trovão
Correntes de água a bordo
Suplício
Chuva
Lomba d´água e invasão
Elo de molhar e de afiada ventania
Cobertos gelado de lona
Gelo e capa, desnuda, coberta
Leme a solto, conduta
Navio
Hei, controle! olha acima!
Escuridão, medo do fundo...
Azulado
T´és mar e mar vagueia
Ondula e mareseia os ares
T´és mar e mar espreia
Estrela e coral, abotado
Sombra de mar
Puxou que leve levanta
Desceu t´raveiz e bote
Onda outra vez, rebote
Sal e horizonte a fino
Mar menino, brinquedo
Horizontalidade
Mar manseiro
Culto
Célebre mar
Velho, antigo
Mar aposentado
Prostrado em tanto mar
Mar intimidado
Ágora de pássaros
Gaivotas e pinguins
Congregado, aconchego de mar
Falho e imperfeito
Lacunado
Amado mar
Mar de certeiro e definido
Mar que é, em sempre mar
Ondou
Aguou em vale
Vale de mar, bem cheio
Mar que subiu, transbordou
Regou terra seca de mar
Mareou
Mar fino, que mar
Gracioso
Mar de calma e alvo
Mar debochado
Malandro mar
Mar de noites
Mar mistério, infinito
Mar
Gordo e robusto segredo
De mar
História
Caso de mar aberto
Esperto
Não entregue
Mar de suspense e imensidão
Mar próximo, anunciado
Leito de mar e assombração
Pasmo de azul e verde e mar
Infirmeza de mar, tombo
Mar próximo, aproximando
Azulou mar, mareou