segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Remetida Ladainha

Corre a solidão.
Por todos os campos e bosques que passam em nossas cabeças a todo momento
Corre a solidão.

Em todos os impérios do massacre à doença e o perigo da crença no apagado da espera
Corre imensidão
Nas ruas, nas favelas, nas esquinas, nos terraços, na pinguela, rio abaixo, rio acima, rio mourão

Segue o carrilhão
Trens que apitam, desnorteiam, reafirmam e insistem e demarcam e reclamam gratidão
É o poeirão

É o passado e seu amargo e sua doçura e sua loucura e têm brochura e têm Camargo e têm Lobato e têm Brandão
Jovens do quarteirão
Esperando a assembléia e mais uma prosopopéia e a Andréia que não decise se inside ou se não
Tanta indecisão

Mas é vida, mas é vida, não é posse, têm ferrida e têm tosse, mas guarida traz o peito e o porão
Vida de hermitão
Traz as velas, tragam os postes e os recortes, fortes e finos, os meninos com suas gingas e mandingas de valentão

Sonho de ser peão
Pois os caibros já trincaram, os asfato já racharam, caminharam os caminhões e só sobrou um buracão
Êita povo bão!

Destruiram, destruiram, disfizeram, acabaram, já mataram, já está morto, que desgosto, que paixão
Morreu nosso perdão

E choraram, como choraram, se lembraram, que arrependimento, que fome, que fome, que vento, ventania e inanição
Sendas da compaixão

E é dia, passou noite, apaga vela, volta o poste, que é dia, não precisa, não tem mais a precisão
Luz maior clarão
Levantaram, levantando, foi seguindo e buscando novo amor nas pradarias e padarias do trigo são

Leve como pão
Alimento levantado, fermentado e levedo e enredo e romaria e trigo da vida em camporão
Novo capelão

Levantando, levantado foi levado para o alto de assalto assustaram seus mendigos e botaram muita dúvida mas lembrava e têm promessa e têm vontade e têm jeito mesmo a maldade que mais bonito que sabido e o jeitoso e charmosão
É que tem cargão

Junto está e junto veio, no esteio, na morada, na tapera, no rincão
Velho de vazão
Pôr de noite, pôr de tarde, pôr de dia, que aguarde, sair dos pesos, voltar ao nuveiro que têm o meu sermão

Salto à imensidão
Salto à palavra
Gosto que encrava
E brisa que destrói
Fogo que corrói
É quente, é brasa
É fogueira e casa
Onde mora o quinhão

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Passeios no Parque do Novo Olhar

Há muitos tempo a filosofia procura
Pôr em atividade solene todo o nosso enorme pensar

Pôr em quadros, livros, becas, fórmulas...
A nossa imperiosa disposição de dar novo cabo e semeamento
Ao nosso familiaresco pensar

Traz peças de um museu desconhecido
Empoeiradas citações de uma gradiloqüência deslocada

Traduz para o vernáculo "adequado" o simples falar dos homens

Formula uma roupa nova, freqüentemente apertada a início,
Para vestir novos tratados, decretos, perambúlios e considerações...

Até que há alguma forma de momento ou compêndio temporal cristalizado,
Onde o apertado começa, lentamente, confortavelmente, a afrouxar.

E os sapatos não mais apertam como antes
As meias perderam sua característica ambientação
E o salão parece estar calmo, de repente
O abraço já não acaloura nem encomoda ou constange como já fora...

Alguns chamam de maturidade
Ou conformismo cego
Ou mudança oportuna

Eu não sei como o nomear
Mas sei que traz consigo os sinais de tempos passados
Os sinais de que o tempo não fora indiferente

Ele infuiu, influenciou, mexeu, rearranjou, bagunçou um tanto as coisas

E as coisas que nós falamos já se mostram e se declaram como outro objeto
Outra apreenção, um novo olhar, um colo mais macio, mais apetitoso, mais tênue e manso
Outra situação...

Eu sei que é as bandejas precisam ser lavadas
E que pratos são receptáculos daquilos que iremos devorar

Nesse hall de consumismo da última ervilha antes que o preço dispare
Há mais coisas que são usadas do que as tintas de nossos pincéis

Se um desespero ameaça aparecer, dê-lhe uma aspirina...
Que a mudança não foi tão ultrajante,
Desautorizada,
Infame,
Louca,
Devassa,
Transloucada,
E tardia
Como em tempos
Em que o câmbio próprio, íntimo, alternativo
Não encontra oferta nem procura
E o mercado obstrui o direito à livre palavra

Todas as outra formas de voltar a deslocar seus olhos,
Apenas realçarão paisagens bonitas, em detrimento de
Deixar órfã a feiura.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Autorização no Fundo da Vontade


Deixar a aparente leveza do sono
Pairando sobre as mentes, os milhares de pensamentos
Sintindo a alma em pulsação constante, ininterrupta
Aos olhos de si mesmo e às voltas com as idéias

O sono de um pensamento distante e inefável
Cristalizado em figuras, uma geometria estranha
Diversos passos e etapas, seguimentos
Para se chegar a um ponto final, uma suposta conclusão

Caminha, anda, corre
Os nossos dias que são de ouro
De uma assumida inquebrável validade
Uma vontade de acertas as contas com o momento

Esse adormecer de quando não se lembra
De um tempo sempre visto do passado
De um agora nunca agarrado, pego
Um tempo escapado e fugidio

Tal sono permanece nos nossos olhos
Marcando, revelando, descrevendo
Nossos atos, nossas impressões
Nossos desvios e efeitos imperceptíveis

Uma tundra, uma névoa, uma forte neblina
De emoções, de aparições, de lembranças e fatos
Desconexos, de algum modo muito coniformes
Coniventes, convencidos, testemunhados, silenciosos.

Tal sono dorme em nossas mentes no hoje e no agora
Dorme em nossos braços quando não se levantam e não se carregam
Dorme nas nossas pernas e nossas barrigas quando se deixam abater por fome e preguiça...
Dorme na nossa calma de desespero e inaptidão e não saber mais como nem por onde.

Nossa vida adormece em palavras que saltaram do trem em loucura e desrespeito
Um ultraje de que ainda não conseguimos nos desculpar
Ter força suficiente para assinar em baixo de todas as conseqüências
De todos os tribunais, todas as forças, todas as opressões mais sentidas e camufladas

Nosso sono é uma arma para a defesa de nossas falhas
Quando ainda não temos borracha suficientes para apagá-las da memória
Quando ainda não nos absolvemos da culpa, do dolo
Mesmo sendo verdade estarmos sob a égides de um juiz mais brando

A memória que temos do bando de imprecisões, de atraso e adiantamentos
De um descompasso de quem, evidentemente, não sabe dançar
E ainda insiste na dança da vida mesmo dando-lhe calos nos pés
Esta é nossa intransigência no seus mais belo motivo

Nossa alma que dorme mas que aprende no seu sono o valor do dia
Aprende no seu sono o valor das exigências, da ousadia
Do ir, fazer, ver depois no que resultou
Do acaso arrebatado e firmado em intensões e conseqüências

Nossa alma de palavras em volta e que dão várias voltas nos rodeios programados
Nosso litígio termina quando entendemos onde ele começa
Nossa dança se acerta, acerta o nosso passo,
Nossa música desperta e nosso canto sobressai

Esses dias caem belos, caem em sono mais contente
De ver que não é isto ou aquilo e repredendo sempre
É simplesmente um ser, um estar e fazer o feito e o cravo
Que nascendo das fantasias estão nossas potências mais íntimas e resguardadas
E nossa prática fica tão bonita quando, pra fora, não pedimos licença