quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Por entre a cidade

A cidade e suas intersecções...
Entre vias, avenidas; escondidas comoções
Escárnio automotivo, movido a gasolina, descaráter, falta de educação.
Transcorrer esses caminhos, parado, no trânsito das seis.
Rush por onde passam-se as horas, a contra-gosto do freguês.

Ando por São Paulo, mais rápido de que gostaria.
Meus pés seguem fixos: acelerador, freio, marcha e guia.
Sinto que pouco vi da última curva,
Passou por mim e por nós, todos, meio turva;
Aqueles que param demais na vida corrida que nos leva.

Adão e Eva, duvido tivessem pressa.
Tão calmas as eças do paraíso
Guiso dos ventos do delicado privilégio
Estar em paz, longe dos prédios, acompanhando os arautos do auspício.

Aqui, prédios e tédios se misturam, maculam-se a todo instante,
Como a construir um precipício.
Demora
O tempo que fica na beira da calçada, pedindo esmola.
Um trocado em favor da sua saúde, das crianças, pessoas por demais amiúde.

Ligeiramente, o motorista retruca em negativo.
"Não tenho nada" - diz; a cínica e sagaz resposta.
Não percebe - ou pouco importa - a sinceridade ali encoberta.
Afinal, na ilusão de ganhar a toda hora,
Instantes vivos vão embora,
Ficam, na incólume imagem da cidade.
Uma paisagem seca e deserta.