sábado, 14 de agosto de 2010

Despachando Dificuldades

Inspirei-me com um delírio:
Pensar o sonho real.
As figuras que denotam esse mundo,
Os traços e as telas,
Cabendo ou não nas minhas pálpebras,
Travestem a sinuosidade da velha vida.
Portanto, pensar um sonho,
Que, embora sonho, pudesse ser pensado,
E, ainda assim, ser real,
Indubitavelmente verídico,
Tem algo de estapafúrdio, e, também, perfeitamente verossímil.

Este propósito, não pude tomar por meta,
Uma vez que jamais conseguiria cumprir um propósito desses.
Tomei esta inspiração como horizonte,
Como inalcançável vontade, que, sem ser obsessiva,
Tampouco pendia para a indiferença, a frieza que não brinca com ninguém.

Cultivei essa idéia por algum tempo.
Não dava-lhe a totalidade dos meus dias.
Regava-lhe a terra, e assim ela ia crescendo, se modificando.
Mas não chegava a me envolver com ela,
O que, confesso, me causou alguns momentos de decepção.

Nas vezes em que retornava a essa estranha loucura,
Pincelava algumas idas e vindas, que se traduziam em versos leves, risonhos e tranquilos.
Nada que perdubasse a minha sanidade.

Talvez por isso esta proposta podia, assim, continuar minha.
Continuar uma quimera que, no nome de batismo,
Mesclava a livre expressão das planícies imaginárias,
A meticulosidade das palavras retas que resultam da especulação,
E a mais dura e árida força da sensação contínua de realidade.

Acho que somente a vida poderia traduzir essa coisa irrepreensivelmente sincera.
E foi a ela que, pretenciosamente, deleguei essa tarefa,
Ficando, assim, livre dela, sem maiores compromisso com esse tipo de empreitada.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Grata Lembrança

Meu grande amigo
Perdoe-me se me revelo ausente
Nos momentos em que mais se quer um amigo
E o transladar dos humanos torna difícil encontrar um
Perdoe-me, grande amigo
Por ter faltado às tarde de domingo
Aos jogos de dominó e às noite de boemia
Sinto-lhe dizer que, para essas coisas, perdi a maestria.

Receba, com estima de um singelo conforto
Esse recado amado, com votos de reconsolação
Se há tempos estou afastado, não queria inferir disso
Uma falsa ingratidão.

Um lapso e mesmo uma desplicência,
Quanto a isso eu deixo passar
Pois bem sei que dessas obrigações
Não é possível sair sem pagar
Não se pode ludibriar, nem ser omisso.

Se hoje então fico a ver navios
É porque causei os meus próprios momentos frios
Ainda que me lembre e saiba, sim, me acalourar...

Meu amigo, grande amigo
Não leve a mal meus infortunos descuidados
Sinto-me ao teu lado, mesmo cego às tuas necessidades,
Quando estiver longe, distante
Saiba que penso sempre de modo mais perto
Que estou mais próximo que as nuvens avizinham
E sou o abraço que hoje outros braços vão te dar.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

RATIFICAÇÃO

Um caminho se abriu
Alargou-se entre vielas
Com suas demarcações esguias
Com passos não-marcados
Sentiu a tonalidade áurea repousar sobre as folhas

A prática da paciência
Uma virtude e uma vertigem
Voto sob o desconhecido
Confiança
Paixão e entrega
Um caminho inóquo

Estar, estado
Recolher passagens frias
Nesse outono que recebo
Pela fresta da minha janela
Um sol estelar, asteróide
Direciona calor e consolo
E gira rotas de misterioso centro

Um caminho aberto
Que nunca esteve fechado

Longa espera, curta chegada
À luz constante e perpétua
Cometas cambaliantes
Cedros
Pinheiros
Árvores que alcançam o topo do céu
Escadas

Chegar é mais simples do que ir