quinta-feira, 29 de maio de 2008

Rapsódia de Andor Descalvado

Traz espectro a ameixeira de arrodoadas pernas
Estacas de bom finco na terra promissora
Vem junto e vem com, vem vindo
O barulho e o falatório de imensas multidões embaladas

Traz vulto de caminheiro por estrada
Ou viajeiro, andor de poeira e dia
Passor de passos firmes
Que de jovem e inexperiente
Fez-se ancião e de repente
Saiu traz cobra de chocalho
E no embaralho feriu monotonia

Traz tendo, remanso!
Carrega dois fardos, enfim
Amontoa o velho e o desgaste nas costas
Te ruma, que digo! vai e que vai...
Sai e não despede, bando de pontos
Com esse volume não há adeus
Vai que olheiro guia!

E o que trouxe, levou
Nada para deixar, ficar não deixaram
Para o estrador apenas poeira
Que nem sequer é sua, mas taí que tá

Leva embora, menino!
Leva para longe as marcas deste passado
Das multidões e das massas enfervilhadas
Que calor de quente nos basta o sol
E cabeça de redondo nos basta a pedra

E se é que foi, tá aí que tá
O que podia, bom, daí não tá
Mas traço permaneceu, mesmo inquisto
Permaneceu e pode comprovar
Se não quer ver, tem olheiro pra isso
E olho próprio para ir cego nas sombras do devido chão

Mais vale andar.



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