quarta-feira, 28 de maio de 2008

Os Gestos de um Porão Tardio

Em toda puberdade há um pouco de desvelo

Um tanto de pachorra e santidade revestida de brios

Noites e lares escondidos nas falas

De mentes e vestidos e silhuetas e anis


Faz peça, teatro, dos golpes do corpo

Jorrada de mel sobre os lábios do afeito

Imaginação e esperança de um acabo

E fim de história em um acabamento


Não é de se entregar tão fácil ao sexo

Ou ao deleite do outro ficando estátua

Pobres lembranças e autos e lentos...

Novilha rememoração de sangue e mácula


Há, em toda juventude, um quanto de zelo

Um zelo por uma liberdade desconhecida

Um carinho tão grande pela transgressão abrupta

Reverência pagã de um sagrado de botiquim.


Um imediato, um estalo...

Hóstias revestidas de batom e perfume

Pecado virando leito e boca virando carne

E dentro virando fora de brisa e arrebato

Não é se vivo ou se mato, mas se morro e me ingrato

Tal peixe em rio acurvalado, tal pouca luz de vagalume


Caio do bolso, o torso de um lenço

Enquanto isso, eu penso

Muitas bebidas e gelo e alecrim

É noite de boa e embriaga lucidez

Que noite esta será de mim?

Se baro num bar a noite, se pingo na pinga velha

Se corro e sonho amélia, se acordo e sorrio Inês...


Como pode ser outra vez?

Anunciamento ou descompaixão...

Soltura de amor e amada,

Campo livre, aberto, contido...

Como pode descrever a estrada,

Dos dias de tempestuosa margem e rio,

De novos momentos de lenço e lençol

Galope, fogo, arrepio!

De deixe, e deixo, e deixo hiato...


Em câimbra e peca-peca

Em cambalo do cambaliamento

Escravo e capacho

Corpo e chão, pisão

Rebento

Menino

Grossura

Cado e passo adentro

É um moinho de voltas ao passado

Mirando e espreitando um futuro.

É juventude e largadez fortuita.

Acaso, coincidência e pés,

Dependência, estrago.

Dou por findado meu revés...

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