Faz dela germe e incubadora de frutos
Salpiqueia nozes e amêndoas, enclausurados
Cascas de fechada câmara de fermentar
Uma cor de nascimento que ainda espera
Nova oportunidade para mais um pouco de brotar
Clareia pouco para mais longe clarear
Não tão cedo, mas ainda breve
Um sentido de muito a ser feito
De alcançar o que não se sabe
E nem se é, tão logo. Efeito
De velhas potencialidades se manifestando
Um lance de luz sobre o nada
Mas um nada que não se declara
Que ignora sem distinção
Que aguarda em paciente quarentena falar
Um recado chamado parcimônia
E sons e vozes de uma orientação profunda
Do seio da terra, não alta
Suave, lenta, baixa e fecunda
Uma textura de fino traço
De corte raso e não abrupto
Não violento, corte de laço
De repasso, amasso e vento
Uma fragrância anti-ansiedade
Que traz o perfume de um longíquo tempero
Gosto de mirra e de mel, de presente
Lembrança de reis e magos e de oriente
Um sabor de escatologia, de expiação
De uma redenção que por hoje vem da terra
Que mostra motivos de vinda e de chegada
De viagem, da mística e da enunciação
Uma entrega ao berço, à vida
Ao inesperado momento seguinte
Ao mistério que é seguir
Á doçura do humilde credo
Um recomeço com a ironia
Fazendo novas amizades com o saber
Sem pôr nem dissecar o nascente
E constante volta e retorno para frente
Um jogo e uma espreitada
Nuances felizes do olhar
Finos e ferozes dias
Luzes, nozes, cascas, embrulhar
Um instante para ir adiante
Rumo ao novo, ao jamais nunca visto
Ao que nem se sabe se fora quisto
Mas se vai e se segue, hoje prossegue e amanhã regressar
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