segunda-feira, 8 de junho de 2009

Um Desabafo

Instante e lugar de cólera,
Tosse, dor e câimbra,
Vontade de gritar para o alto
De soltar os cachorros
Matar aquela pessoa que te deixou,
Esganar a sua falta de responsabilidade,
De consideração,
Quase que de respeito.

Rudimentar manifestação de um afeto,
É doido demais ser deixado de lado,
Ser posto à parte, posto à margem,
Quando mais queremos ficar no centro,
E sentir tudo aquilo que parece que os outros todos sentem,
Aquela paz interna de estar com quem se ama,
Com quem se quer,
De obter de volta aquilo que se deposita
Que se entrega,
Uma entrega que não pede juro, mas que quer o reembolso,
Quer ver de volta o espelho que alegria transmitida
Quer enxergar aquele orgulho que o outro sente por ele
Aquela nítida feição de ser tão quisto a ponto de ser imprescindível...

Não importa que ninguém de fato seja,
Que todos o sejam, em sentido metafórico, folclórico, lúdico, alegórico,
E frente à força das necessidades isso tudo vire balela, piada, chacota, burrice.
Não importa.
Importa é ter a segurança de uma boa bengala,
Quando o ar nos falta e ninguém pode nos entregar o oxigênio.
Importa ser amado na hora da dor, na hora do desespero,
No momento em que sentimos que vamos cair,
Importa que nessas horas a gente possa se escorar totalmente nos outros
E obter deles tudo o que precisamos; tudo mesmo.

É um sujeito muito privilegiado esse que se encontra nesta situação.
O mais comum é ter que levantar por si mesmo,
Isso, claro, depois de ter dado de cara no chão.
Depois de sentir o calor do asfalto esfregado na cara,
A falta de vergonha nos olhos,
E o absurdo do outro ainda querer, instintivamente, se justificar,
Aquela justificada de sobrevivência, medíocre.
Aquela que sela a falta de coragem.

Eu odeio quem tem a ousadia de provocar em mim essas dores
Não quero nunca mais encontrar essas veredas,
Nem nunca quis, na verdade.
Sempre quis um ambiente de paz e lutei por isso.

Não foi o que recebi.

Aos que sabem serem os personagens deste drama:
Cuidem melhor de seus passos daqui por diante,
Pensem um pouco mais; pensem.
Esta existência não é brincadeira,
Ela é fatal demais para ser tomada por contingente.
Ela é derradeira.
E sela a sua veemência no olhar de uma lembrança mal-resolvida.

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