terça-feira, 9 de junho de 2009

O Espírito de uma Condenação

Uma razão mal-falada
Resume a congestão de sentimentos.

Apenas dois passos errados
É o bastante para cair em falso

Dois passos escorregadios.

Um confirma a validade do outro,
Apelando para o desastre pela segunda vez.

Duas vezes.

Duas vezes repetidas.

Uma razão mal-dita
Pode despedaçar um colegiado de sonhos.

Pode deixar sem eira nem beira
Seus fiéis súditos, incólumes.

Uma razão que não se esclareceu
É sempre muito próxima de sua loucura

É muito ousada para ser compreendida,
Muito centrada em si para poder se dar ao outro.

Uma razão fingida
É sempre mais fácil que um soneto simples

Ela acaba por facilitar a transação das letras,
Dos corpos, das promessas e dos sentidos

Rumo a um desconhecido que sorri sorrateiro.

Ela termina por ludibriar, faz delícia do seu engano.

Ela corrói, corrompe e estraga o auto-referente verdadeiro.

Cega de si e apaixonada por sua cegueira... ela vai!

Vai ao fundo dos âmagos diminuídos, ao porão dos maiorais,
Busca aquilo que não tem nenhum sentido, entrega aos demais.
Rima como esgrima, deixando um passo sempre atrás.
Deixando cair o seu oponente,
Nas garras de sua cova,
Na confiança que ele detinha,
E o que detinha numa posição gostosa,
Onde podia dizer o que queria,
O que pensava,
O que mais vinha,
O que faltava,

Porque faltava algo a essa razão dismilinguida,
Faltava engordar os seus cordeiros.

Uma safra boa, não tinha.
Um churrasco farto, faltava.

Faltava ter consigo uma última esperança
De onde saberia não poder cair do trem,
De onde conseguiria se segurar, se encobrir
Aonde poderia se enjoar a vontade
Sem medo de perder o fluxo ou o ritmo
Sem medo de perder a calma ou perder a paz

Esse lugar morreu na razão dos destroços,
Das faltas e dos desvios impiedosamente julgados,
E condenados a torto-direita pelos símbolos de plantão.

Esse lugar funesto jaz a cada instante na nossa falta de perdoar.

Nenhum comentário: