terça-feira, 9 de junho de 2009

Recolhimento à Caverna

Eu vou morrer.
Para mim não existe salvação.
Se corro dos meus problemas, eles logo me alcançam.
Se me atiro a desvendá-los, termino enganado ou corrompido.

Sinto que nada disso presta, nem mesmo um mínimo centavo.
E o que presta eu não alcanço, não consigo, não dou pé para essas coisas.
Sinto que lutei um bom tempo no escuro
Achando que tudo estava muito claro
Que eu tinha um universo em minhas mãos
Não, que eu tinha dois, pois um era muito pouco.
E cada um deles era único; e ambos, unicamente meus.
Se fosse só piração, não tinha tanto problema.
O problema é que tinha gente nesse universo.
Tinha uma multidão de gente, pessoas para dar e vender!

E daí eu não preciso falar mais muita coisa, não é mesmo?

Acabou dando tudo errado!
Deu tudo errado mesmo!
O trem descarrilou, caiu na ribanceira, só sobrou uns pedacinhos de trem.
O mineiro dormiu triste, sem o seu trem.

Sobrou também umas angústias por aí, meios soltas, desesperançadas.
Um tanto assustada, na verdade.
Assustadas pelo ritmo que as coisas assumem quando se está nessa vida,
Essa vida de gente grande demais.

E parece que não tem freio nessas coisas.
Não, pelo menos, sem cicatrizar um tanto os nossos corpos
Sem remexer naquilo que chamamos de nossa alma
Que, às vezes, não passa de um grande orgulho,
De uma dificuldade muito honesta e sincera,
Que não consegue se desapegar sem matar, nas vias de fato, seu traidor.

Como se isso modificasse grande coisa; não mudaria nada.
O concreto do chão duro continuaria duro.
E aquele filme que passa em nossas cabeças
Supondo a possibilidade de tudo transcorrer conforme quiséramos.
É somente uma fantasia; não tem outro conteúdo que isso.

Os universos, quando repousam em nossas mãos,
São eles também, ao seu modo e em seu tempo,
Fantasias.
Não mais.

Não é porque eram tão bonitinhos, tão deliciosos
Que deixaram de ser fantasias e ilusões de nossa vontade.
Algumas alegorias estavam mais consonantes naquele momento
Vivíamos um período de maior facilidade em lidar com nossos fantasmas.
Alguns podiam até ser deixados de lado, dada a vantagem que sentíamos possuir.

Agora não é assim, não é mais.

A realidade ferrou um ferro forte com sua tristeza.

A doçura esgotou o seu açúcar.

E agora? Qual vai ser a saída? Matar? Morrer?
Ou tudo junto?

Vamos deixar de procurar saída,
Vamos deixar que ela nos encontre.

Vamos ficar sozinhos, e remoer o momento só que passa tão devagar.

Vamos enveredar por esses campos secos e tórridos.

Neles temos hoje que habitar
É lá que está a nossa casa.
Lá onde moram os sozinhos que não conseguem mais conversar.
Lá onde moram os solitários que não encontram outra forma de viver.
Lá, onde eu moro, onde tenho residência fixa.

É lá que estarei pelo que tempo que já está.

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