segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ode à Clareza da Estação

Um vento frio arrebatou minhas palavras
Manhãs solitárias em Porto Alegre
As conchas do meu cobertor perderam seu brilho
Deixando um manto desaparecido sob o fim do outono.

É chegando o inverno
Com sua certeza e sua presença
Seu ar de superioridade
Acima das fragrâncias, dos perfumes dos mortais.

È chegada a hora de meditar
Olhar novamente as fotos antigas
Que hoje são, de fato, velhas
Lustrar as peças debandadas
Ouvir uns sons e ruídos

Neste dia temos de olhar
Sentir mais uma vez o quanto é bom o sentido
Espremer aquilo que conhecemos, um dia, em abundância
Lembrar o quão somos ignorantes dos reais significados.

Neste dia temos de olhar as memórias
Falar do que vimos e deixamos de enxergar
Trazer as lembranças para um espaço vazio
Saber que muito se foi para além do captado.

Neste dia de inverno temos que esfriar
Deixar a quietude tomar conta dos ossos
Dos membros, das juntas, pulmões
Pois tudo que tem seu momento de repouso

E é chegado o inverno
Com seus cachecóis
Seus invólucros do calor obtido
Suas caixetas de consolação

Tantos betumes que estonteiam o transeunte,
Girando por vezes mais que se pode
A miscelânea reinando descontrolada
Mercados e perfis apropriados e “por fora”

Pois o inverno é chegado
O vento é seu mensageira
E sua mensagem é autônoma
Não há pedido de permissão

O inverno é chegado nas casas dos homens
Nos seus cobertos e nos seus sapatos
Nos seus casacos e seus abrigos
O inverno é presente para aqueles que têm frio.

O inverno é chegado
Aos amigos saúdo ao bom vinho
Aos que se encontram ausente, o frio faz as honras,
Aos eternos o calor do fogo, da lareira
Da vela, nos faz retornar novamente,

Retornar ao ventre da terra que acolhe aquilo que se desfez
O desfecho do homem que deixa-se por ela arrastar.

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