quarta-feira, 2 de julho de 2008

As Palavras Exigem Passar


Uma palavra esconde imensos significados
Deixa calado o melhor dos discursos
Manda silêncio para os mais enaltecidos
Recobre de engasgo os mais exaltados

Uma palavra esconde nas letras um sorriso
Uma carícia, um doce, lembranças
Por detrás dos gestos, saudades
Vontade de voltar, sensível de passado

Uma palavra escamoteou nossas maiores dores
Deu e trouxe presente e dias de agora
Momento atual, cheio das atualidades
Deixou por rasteira o resto de instantes

As palavras também fazem escolhas
Aceitam ou desprezam a quem falar
Babam ou envergonham quem as fala
Passam os segundos como imunes, intocáveis

As palavras não admitem expressar tanto
Transmitir qualquer informação, qualquer bilhete
As palavras também têm gosto, vontade
Guardam seu azedo e seu açúcar

Uma palavras apenas já pode abrir mundos
Desencaixar aquele velho cadeado enferrujado
Soltar caminhos presos, a palavra
Desnudar a timidez chorenta de bondades

A palavra pode nos dizer de novo o que nós somos
Escrever recados por todo o nosso corpo
Pintar de preto a nossa cara
Fazer a cor branca do branco salpicado, torto

A palavra pede outros porta-vozes
Palanques de verdade e vozes de coragem
Pede meninos, flores, braços, pernas
A palavra pede hora! Pede vez!

A palavra engole pedras para construir o seu castelo
Absorve chuva para os rios de suas veias
Suor para o seu corpo
E sais para a sua alma

A palavra é calma
Quando calma se faz ela
É bela, preta, aguda, mandona
A palavra é proprietária

A palavra é uma farmácia para os pulmões da minha vida
É curativo, band aid dos meus calos
Esparadrapo de feridas antigas
Da cabeça, do peito, da perna, do coração

A palavra é minha última canção,
Última esperança
É o último trem da estação
O trem que me leva longe...

...para dentro do horizonte.

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