terça-feira, 15 de julho de 2008

Os Campos Esquecidos

Quem não conhece o campo
Nunca viu os verdes da grama orvalhada
Nunca sentiu as brisas de ventos novos,
Matutinos, madrugadas, cruvas de morro
Com tocos e barro, formiga, centopéias e cupinzeiros
Nunca teve criançado dos campejos vivos

Esses campos dão vida! Dão canções de fogueiras!
Dão pastos e bois livres, soltos, montaria de galope acima
Dão quereres e confissões de paixão, de liberdade, de amores surpresas!
Esses campos de minha vida que somem na distância da estrada
A esses campos eu voltarei tão preve quanto o atrito me permita
Voltarei para o almoço em fogão de lenha, para a conversa, cigarro de palha,
Voltarei pelo café da tarde, pela pinga e o queijinho, salame,
Meus Deus, o alimento encorpado desses campos nutridos!

A esses campos eu retornarei novo, de novo
Retornarei ao trabalho no curral
Tirar leite bem de matina
Tomar grapa juntos aos velhos colegas
De rumo seco por falta de chuva
Mas verde em pequenos ramos
Ramos de beirada, de distretude e inocência

Esses campos estão ainda gravados em minha memória
Deus queira eu nunca esquecê-los
Esses campos de folhagem e casas de barros e furo
Têm mais olhar os olhos das crianças
Um olhar horizontino de olhos negros, de lembranças
Dedo na boca, pensamento no alto
São criaturas de distância e bem pertinho
São seres que nos olham como quem nos perguntam

Esses campos nos perguntam até onde conseguimos
Deixar de fora tantas famílias, tantos brasileiros
Tanta terra, tanta terra, tanta lavra para lavrar

Esses campos nos voltam inquietações que a cidade reprimiu
Que as armas dos velhos de barriga tentam novamente afastar
Esses campos afastados do Brasil errante, de homens e mulheres e cana
Esses campos mato-grossenses, mineiros, goianos
Paulistas, paranaenses...
Esses campos nordestinos de uma verdade de cordel
E um recado de Lampião:

Nunca deixam que as Marias-Bonitas amamentam seus filhos na estrada
Que os caboclos nos olham em espreita e nos olham com verdade
Nunca viram campos como este, os homens que nunca falam
Nunca cantam, nunca querem, nunca se importam

Os homens do nunca-nunca, nestes campos tem um recado a vossa senhoria
Nunca pode, nunca tem, não tem jeito, não tem como?
Pois que esses campos dão seqüência assim mesmo
Não tem importância

Esses campos abrem as clareiras necessárias
Plantam seus feijão, arroz e milho
Plantam a vida que antes faltava
E agora sobra e tanta que mais se faz forte
Mais se faz viva, mais se faz presente
Para ninguém deles se esquecer

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