quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pernambuco

Numa luz
Outra fenda
Lâmina entreaberta
Da porta semi-deserta
Dos meus olhos

Cruz da estrada
Fincando sob o Sol
O entreposto da poeira
Num céu anil
Nuvens de abril
Dia de feira
De baixo farol

Sertão, rincão
Áridos dias de açafrão
Pouca relva
Nula selva
Chão, muito chão

Um moço sertanejo suando o ano inteiro

Mato de pinga seca
Dourando o charque da estação
Pedras e pão
Maravilha

No alcance último, a igreja
Estátuas dão as boas vindas
O surrurrar da reza
Que se preza, em latim
Ai de mim! Só sei pecando...
Não importa
Aqui isso é letra morta
A Fé é Quem traz fim

Numa luz
Outra fenda
Jesus
Com sua contenda
Abraça meu corpo
Num encontro perfumado
Encantado de mirra
Espirra insenso, intenso
Gosto de alcatrão

Do fumo velho
Seu Hélio constroi
Papelotes no ar
Seco
Da espraiada paisagem nordestina

Um comentário:

Glauco de Arruda disse...

A descrição poética ou uma construção em forma de poesia é difícil, porque envolve a manifestação sentimental do poeta. Essa está impecável.